terça-feira, 1 de julho de 2014

A sombra do vento (resenha)

A sombra do vento
Autoria: Carlos Ruiz Zafón
Editora: Suma de letras
Nota: 5 estrelas e ao infinito e além
Sinopse: A Sombra do Vento é uma narrativa de ritmo eletrizante, escrita em uma prosa ora poética, ora irônica. O enredo mistura gêneros como o romance de aventuras de Alexandre Dumas, a novela gótica de Edgar Allan Poe e os folhetins amorosos de Victor Hugo. 

Ambientado na Barcelona franquista da primeira metade do século XX, entre os últimos raios de luz do modernismo e as trevas do pós-guerra, o romance de Zafón é uma obra sedutora, comovente e impossível de largar. Além de ser uma grandiosa homenagem ao poder místico dos livros, é um verdadeiro triunfo da arte de contar histórias. 

Tudo começa em Barcelona, em 1945. Daniel Sempere está completando 11 anos. Ao ver o filho triste por não conseguir mais se lembrar do rosto da mãe já morta, seu pai lhe dá um presente inesquecível: em uma madrugada fantasmagórica, leva-o a um misterioso lugar no coração do centro histórico da cidade, o Cemitério dos Livros Esquecidos. O lugar, conhecido de poucos barceloneses, é uma biblioteca secreta e labiríntica que funciona como depósito para obras abandonadas pelo mundo, à espera de que alguém as descubra. É lá que Daniel encontra um exemplar de "A Sombra do Vento", do também barcelonês Julián Carax. O livro desperta no jovem e sensível Daniel um enorme fascínio por aquele autor desconhecido e sua obra, que ele descobre ser vasta. 

Obcecado, Daniel começa então uma busca pelos outros livros de Carax e, para sua surpresa, descobre que alguém vem queimando sistematicamente todos os exemplares de todos os livros que o autor já escreveu. Na verdade, o exemplar que Daniel tem em mãos pode ser o último existente. E ele logo irá entender que, se não descobrir a verdade sobre Julián Carax, ele e aqueles que ama poderão ter um destino terrível.

Avaliação: Acredito que resenhar esse livro de um jeito que lhe faça jus, é impossível. Mas tentarei me expressar da melhor forma possível.

Quando resolvi comprar numa promoção do submarino a trilogia do cemitério dos livros esquecidos, o fiz com certo receio. Não sabia bem do que se tratava os livros. As sinopses e algumas resenhas que eu tinha lido, por mais que exaltassem ao extremo as histórias de Zafón, o enredo me parecia simples demais para levar uma fama tão boa. Mesmo assim, resolvi comprar e um dia, peguei a sombra do vento para ler e tentar entender o que as pessoas viam de tão especial nas obras de Zafón.

Apesar da folha ser branca e tão fina que dá pra ver o que está escrito atrás, dificultando a leitura, isso não me impediu de ler páginas e páginas sem sentir. As primeiras 100 páginas mais ou menos ainda me deixaram apreensiva de “será que vai ser bom?”. Isso porque o autor conta a vida de Daniel Sempere até chegar no ponto chave onde o mistério acaba envolvendo o leitor e aí não tem mais volta. Você se descobre apaixonado pela narrativa e pelos personagens e não sabe direito como isso aconteceu. E por isso, você não sabe se lê rápido, se devora o livro ou se mastiga devagar, para nunca acabar.

O enredo gira em torno de Daniel Sempere, que um dia, quando criança, é levado pelo pai a conhecer o cemitério dos livros esquecidos, onde existem duas regras; a primeira é não contar a ninguém sobre o lugar. E a segunda é que a primeira vez que a pessoa vai até lá, tem direito de levar qualquer livro. E o cemitério é um lugar enorme, semelhante a um labirinto, onde existem lendas que algumas pessoas se perdem e não voltam mais. Enfim... Daniel escolhe um livro ou o livro escolhe o Daniel, como alguns gostam de pensar e ao levar para casa e ler a história, o garoto se vê envolvido a tal ponto que resolve procurar mais obras do autor Julián Carax. Só que ele acaba descobrindo que além de quase ninguém ter ouvido falar de Carax, os livros restantes do autor estão sendo todos queimados e destruídos ao longo dos anos. A partir desse cenário, acontecem muitos desdobramentos, muitos mistérios e suspense. Um suspense que beira ao sobrenatural. No entendo, não dá pra definir o gênero desse livro, porque tem de tudo um pouco. Romance, drama, mistério, suspense. E tudo arquitetado com maestria.

- Pois bem, esta é uma história de livros.
- De livros?
- De livros malditos, do homem que os escreveu, de um personagem que fugiu das páginas de um romance para queimá-los, de uma traição e de uma amizade perdida. É uma história de amor, de ódio e dos sonhos que moram na sombra do vento.”

Em A sombra do vento, além do enredo ser viciante, os personagens são apaixonantes. Me apaixonei pelo Daniel de um jeito que nem dá pra explicar. E Fermín Romero de Torres? O que era aquele homem? Simplesmente um dos melhores personagens já criados nesse mundo! Ele tornou-se o melhor amigo de Daniel e era ele quem dava um toque mais cómico e sábio à história. Era como se as partes em que Fermín apareciam tivessem algo de especial.

“As pessoas tendem a complicar as suas próprias vidas, como se a vida já não fosse suficientemente complicada.”

O interessante é que Zafón escreve de tal forma que faz com que o leitor visualize os personagens na sua forma real. Daniel, Fermín e todos os outros, são reais para mim. Eu penso no Fermín, por exemplo, mesmo depois de meses que li o livro, consigo lembrar do seu jeito de falar, do seu jeito de andar, do seu rosto e até da sua voz, mesmo sem lembrar das descrições impressas nas páginas do livro. Porque é como se eu não precisasse lembrar do que está escrito, já que eu conheço Fermín pessoalmente. Mesmo que eu de fato não conheça, nem remotamente, alguém parecido com ele. E o mesmo vale para o Daniel.

Zafón tem um jeito de escrever, de contar história, de criar suspense, que eu nunca vi igual e nem sequer parecido. Embora já ouvi ele sendo comparado com grandes escritores mais antigos. Ele escreve extremamente bem, sem que a leitura se torne chata, sem que as palavras sejam confusas, sem que você precise usar um dicionário. E ao ler, você nota naturalidade na escrita. Acho que por isso, o enredo flui como água. É como se ele fosse um gênio, mas sem o ego gigante. É como se ele nem se esforçasse, como se as palavras saíssem dele como o ar que ele respira e mesmo assim, é a coisa mais perfeita do mundo. E tudo isso eu senti só de ler A sombra do vento.

“O destino costuma estar na curva de uma esquina. Como se fosse uma linguiça, uma puta ou um vendedor de loteria: as três encarnações mais comuns. Mas uma coisa que ele não faz é visitas em domicílio. É preciso ir atrás dele.”

Há uma complexidade e ao mesmo tempo simplicidade quase palpável no enredo. E por mais palpável que seja, não é explicita. Existe algo inenarrável na linguagem dos livros do Zafón que nem parece desse mundo. As palavras, as frases, os diálogos e as descrições te envolvem sem que você perceba, ganham vida sem que você repare e com isso, te fascinam. Mas parece que você nunca vai saber exatamente o que te atingiu ou como o Zafón te fisgou daquela forma. Porque se você for ler fora do contexto, frases soltas, ele poderia ser comparado a um poeta como muitos outros. Mas no texto corrido, um capítulo após o outro, você percebe que não existe nada igual à escrita do Zafón e suas histórias. Creio que só quem vai entender o que eu estou dizendo, é quem já leu e gostou tanto quanto eu.

A sombra do vento é o tipo de livro que se você me diz que leu e não gostou, então eu vou achar que você é louco ou que você ainda precisa ler muito livro pra ter a sensibilidade de perceber o quão magnífica é a escrita do Zafón e que nada que ele escreva fica mais ou menos, simplesmente porque ele é um escritor com todas as pompas e com “E” maiúsculo e eu sinto que mesmo que um dia eu venha a ler um enredo pobre, eu ainda vou me apaixonar pelas palavras dele.

“- A televisão, amigo Daniel, é o Anticristo, e digo-lhe que bastarão três ou quatro gerações para que as pessoas não saibam nem dar peidos por sua conta e o ser humano regresse às cavernas, à barbárie medieval e a estados de imbecilidade que a lesma já ultrapassou lá para o Plistoceno. Este mundo não morrerá de uma bomba atómica, como dizem os jornais, morrerá de riso, de banalidade, fazendo uma piada de tudo, e aliás uma piada sem graça.”

Enfim, claro que não vou realmente julgar ninguém que tenha odiado A sombra do vento ou qualquer outro livro do Zafón, eu simplesmente não vou entender essa pessoa, mas tudo bem.

No mais, na minha humilde opinião, leia todos os livros do Zafón. Ainda não li todos, mas pretendo ler tudo que for publicado dele, sem o menor medo de me decepcionar. Para mim, ele é o melhor escritor da atualidade. Ainda não conheci nenhum outro que sequer se aproximasse da genialidade dele.

Pra finalizar, eu só fico imaginando se na tradução eu sinto e percebo tudo isso,  como não deve ser em espanhol, na versão original...

“Os tolos falam, covardes se calam, os sábios ouvem.”


Por: Mar

7 comentários:

  1. Eu comecei a ler esse livro mas não rendi muito e acabei parando! Não entendi pois sempre leio resenhas super favoráveis de pessoas em cuja opinião confio! Acho que eu não estava no momento certo para o livro, ou talvez o começo seja um pouco mais devagar mesmo e eu precise continuar até pegar o embalo! Certamente vou tentar de novo!!
    Samara - www.infinitoslivros.com

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    Respostas
    1. Acho que pode haver vários fatores pelos quais a leitura não te prendeu. Dê mais uma chance. Zafón é espetacular! E a sombra do vento é o melhor que li dele, até agora. Leia com calma, não tente ler pra devorar. A escrita do Zafón é feita pra ser degustada, cada palavra e frase. E sim, acho que os começos do Zafón são um pouco devagar, pois ele tenta ambientar a pessoa na história primeiro. E ele não atropela fatos, nem nada do tipo. Acho que por conta disso, dificulta um pouco para algumas pessoas... Mas a história é EXCELENTE. Tente de novo!
      Mar

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    2. Pois é Mar! Eu imagino que não estava no momento ideal para um leitura mais devagar. Certamente não desistirei dele, depois de tanta opinião positiva que li! Estou com Marina aqui para tentar estrear o autor! Vamos ver!

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    3. Tomara que você goste! Ainda não li Marina, mas pretendo ler. Aliás, pretendo ler todos do Záfon <3
      Mar

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    4. Vim te contar que li Marina!!
      O livro é excelente! Fiquei boquiaberta e já quero ler outros do autor! ;)

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    5. Aaah, sabia que você ia se render ao zafon haha impossível não gostar da escrita desse homem *-*

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    6. Preciso pegar mais indicações aqui com vcs! ;)
      Hehehehehehe

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